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Fuga

     Ter passado o tempo naquela enorme gaiola de dragão - era o mais provável pelo tamanho - tinha a impressão que os gigantes arrancaram os ossos com facilidade, feito madeira encharcada com cloro e vinagre. Era o único gosto que podia sentir enquanto estava sentado no encosto da parede. As grades de madeira parecia se produzir á cada estacada que Sarah reduzia com os dentes de lobo.

     Talvez esse fosse o fim da linha, pensou Rayh.

     No outro lado os gigantes festejavam com comida e bebida. Uns comentavam de qual parte iria comer primeiro. Rayn jurou ter escutado a parte traseira. Imaginou aquelas criaturas gritando: O bumbum é meu! O bumbum é meu!

     Trágico.

     - O que mais pode ser pior que esse dia? - Comentou Rayh.

     Sarah parou as estacadas e se posicionou ao lado de Rayh.

     - Ouvir os gritos de comida na mesa? - Disse ela, tampouco entediante.

     Pensou nos momentos que teve com sua família no novo México, sempre fugindo das escolas que os seus tios colocavam no primeiro e segunda grau. Algo estranho sempre acontecia, até mesmo com as amizades que construía nas escolas, a notícia vinha correndo pelos ouvidos de Rayh: Menino desaparecido, encontrado morto três dias depois. Porque sempre três dias depois? Esse era o seu número de sorte, que supostamente se tornou azar desde que se conhece por...

     - Não adianta - Disse Rayh, batendo na grade de madeira. - Nunca sairemos daqui vivos.

     Sarah foi adiante com seu plano de quebrar a jaula, mas não tinha sucesso. Parou por um minuto e olhou para Rayh com expressão de surpresa.

     - Talvez a sua espada consiga quebrar a jaula!

     - Se pelo menos soubéssemos como convoca-la - Resmungou Rayh.

     Um gigante de quatro olhos foi diretamente para a jaula com a língua de fora. Farejou Sarah fazendo careta, depois se virou para Rayh com um sorriso maquiavélico.

     - Carne fresca - Disse o gigante se lambuzando com a língua molhada.

     Depois que o gigante voltou para a comemoração. Rayh estava de pé grudado na grade, com o rosto molhado de lágrimas.

     - Hei! Nós vamos sair dessa junto, certo?

     Ele fez sim com a cabeça, procurando a esperança.

     O assustador era o caldeirão sendo preparado com líquido dourado - na qual os dois não sabiam identificar - e partes de ossos humanos. O que cozinhava jogou um par de olhos e duas orelhas cortadas ao meio.

     Rayh ficou com a boca cheia de vômito, pronto para largar no piso da jaula.

     Se pelo menos tivesse as bolsas, já teriam saído se fazer escândalo. Poucos gigantes que sobraram - porque quase a metade estava caída no chão bêbado - murmuravam alguma coisa com "Nada", não era exatamente o que devia ter escutado, mas Rayh suspeitava que não fossem os únicos a estar com aqueles gigantes.

     Fora da jaula, havia uma faca de dois gumes. Infelizmente estava distante demais. Sarah fez sua última tentativa, e a grade da jaula continuavam a se reproduzir.

     - É inútil! - Gritou Sarah batendo na grade.

     Rayh olhou em volta, pensou na espada que o deus lhe deu antes de atravessar o portal. Equilibrou suas emoções e pensou na palavra: Macuahuitl. Na sua mão algo estava esfarelando contra o tempo, como se a pólvora se transformasse em material sólido. Teve a intensão que estava segurando algo comprido, algo reconhecível. Quando abriu os olhos viu os últimos detalhes se formando na lâmina gravada.

     Quando Sarah viu a espada na mão de Rayh, ficou de boquiaberta.

     - Como você fez isso? - Perguntou ela, esfregando os olhos.

     Rayh comprimiu os olhos com um sorriso estampado.

     - Fantástico - Admirou ela. - Certo, agora tente quebrar a grade.

     Sabia que somente ele poderia utiliza-la, qualquer pessoa que testasse segurar a espada, cairia junto com ela. Ele ficou de frente a grade. Deu sua primeira tacada que fez um pequeno arranhão, mas reproduziu em seguida. Atacou novamente e outra vez a jaula conseguiu recuperar-se do dano. Ele tentou mais uma vez, segurando a espada firma com as duas mãos. Preparou os dois passos e atacou com um só golpe. A grade da jaula finalmente se quebrou, dando espaço suficiente para ultrapassa-la.

     Eles quase comemoraram quando um gigante se virou para a jaula. Começaram a correr fora da mesa, pulando nos dois pilares da escadaria. Tiveram dificuldades para subir os degraus, quando já estavam longe suficientes da sala de comemoração - ou como interpretaram - ouviram gritarias ecoando por todos os lados.

     -... Procurem-nos! - Gritou alguém.

     Rayh estava presta a correr novamente, até Sarah puxou seu braço para debaixo da mesa próxima. Um gigante gordo entrou na sala segurando uma maçaneta.

     - Olhe - Disse o gigante - Encontrei isto!

     O gigante se inclinou para frente pegando algo no chão. Rayh e Sarah cruzaram os dedos para que a criatura nãos os visse, mas o gigante acabou pegando um pedaço de metal enferrujado.

     - Pode servir para o encaixe - Depois saiu andando chamando o resto de sua espécie.

     Sarah aliviou os ombros caindo de bunda no chão. Rayh sentou com ela de pernas cruzadas, apoiando o braço nos ombros dela.

     Enquanto pensavam em alguma estratégia, algo chamou suas atenções, um assovio baixo. Não parecia estar muito longe. Sarah foi a primeira a se manifestar, se levantou procurando de onde o assovio veio.

     - Hei, aqui... - Chamou alguém com voz baixa.

     Sarah procurou em todos os lugares, mas nada encontrou. No norte uma maçã apareceu mordida na escuridão. Rayh se levantou imediatamente, ficando lado a lado com Sarah. Eles se aproximaram no local onde a maçã apareceu e viu uma intensa estrutura lixada, parecia a mesma grade em que estavam presos, mas quando deram um olhada dentro da prisão, viram uma jovem de cabelos castanhas toda coberta de areia e folhagem.

     Rayh arregalou os olhos engolindo o seco.

     - Por favor - Implorou a jovem. - Me ajudem.

     Sarah fez um movimento com a cabeça, apontou com dois dedos para a grade como um ataque. Rayh ergueu a espada na sua mão e quebrou a grade numa só estacada. Sarah correu rapidamente dentro da jaula e segurou a garota que não tinha força nem para ficar de pé. Rayh olhou para a espada e a fez desmaterializar, em seguida correu para ajudar Sarah retirar a jovem daquele lugar horrível.

     - Você está bem? - Perguntou Sarah para a garota.

     A jovem tossiu várias vezes sem nenhuma resposta, fez que sim com a cabeça como resposta.

     - Qual é o seu nome? - Perguntou Rayh segurando-a ao lado.

     - Nadiah Hioam - Conseguiu responder.

     Sarah colocou-a no encosto da parede, segurando as duas mãos.

     - Você é a garota desaparecida, o acampamento mandou a legião para o seu resgate. - Questionou Sarah. - Como chegou aqui?

     - Eu não sei - Respondeu Nadiah, que em cada palavra era uma tosse. - Só lembro que estava num parque de diversão, e no parque houve uma explosão onde eu estava, depois disso a escuridão me consumiu. Quando acordei estava deitada na jaula, com os gigantes batendo tambores... Cantando um tipo de melodia diferente das que conheço.

     - O ritual do xamã - Disse Sarah. - Mas isso não importa, o que importa é que encontramos você e vamos leva-la deste lugar.

     - É impossível sair deste lugar - Berrou Nadiah. - Sempre que me libertava, tentava achar uma saída. Mas não tem uma saída.

     Rayh balançou a cabeça. E disse:

     - Nós temos uma saída para o outro lado.

     - Só precisamos de nossa bolsa - Comentou Sarah. - E achar o segundo pedaço do calendário.

     - Tem alguma ideia de onde ele pode estar? - Perguntou Dayner.

     Nadiah parecia saber do assunto, ficou um pouco pensativa olhando para os dois. Balançou a cabeça insatisfeita.

     - Essa dimensão não tem limite, para cada área que nós fomos sempre tem o horizonte. - Disse Nadiah. - Os gigantes sempre vão nos encontrar, mesmo se fugirmos.

     - Você sabe onde eles guardam os suplementos?

     - Seu sim, naquele corredor. - Nadiah apontou para o corredor oeste.

     O corredor Oeste era o mais barulhento. Significa que as bolsas estão com os gigantes.

     - Você não vai lá recuperar as bolsas, vai? - Perguntou Rayh, trêmulo.

     Sarah saiu debaixo da mesa, indo na direção do corredor oeste.

     - Não temos escolha!

     Ótimo! Por mais que tentaram se libertar da Jaula, ainda tinha que entrar na sala cheio de Gigante. Ajudar Nadiah a andar - não tinha força nas pernas - e se os deuses permitirem, morrer tentando enquanto os gigantes assavam transeiros de dois semideuses e uma menina-lobo. Todos saíram ganhando e a missão acabou num fracasso.

     Não pense desta maneira seu idiota, falou Rayh em seus pensamentos.

 

     A sala de suplementos, que verdadeiramente era a sala de bortador-do-lixão dos gigantes tinha coisas que fez o queixo de Rayh cair no chão. Coisas que os membros do acampamento ficariam de biquiaberta, até mesmo o deus dos alados... Como é seu nome mesmo? Ah Duym.

     Rayh procurou Sarah em todos os lugares, quando olhou para cima, viu ela com a bolsa nas costas.

     - Como você fez isso? - Balbuciou ele.

     Ela foi para a ponta da mesa rebolando. Quando virou para frente viu um gigante com os olhos fixo a ela.

     - Aaaaaargh! - Gritou o gigante. - Semideuses livres!

     Sarah deu um salto surpreendente de cima da mesa, correndo em total velocidade para fora da sala. Rayh a seguiu segurando Nadiah - seus passos eram mais lentos devido a dificuldade da garota. Eles passaram pelo mesmo lugar onde estavam presos, uma dúzia de gigantes se preparavam para segui-los. Rayh dobrou para o próximo corredor se escondendo um pilar de pedra cinzenta, Sarah fez o mesmo para evitar transtorno. Os gigantes passaram direto gritando e jogando flechas adiante. Algo os chamaram atenção no fundo do corredor.

     - Vocês ai, por aqui!

     Eles acharam que era outro prisioneiro, mas quando chegou mais perto viu um gigante de perfeita aparência - era o único que tinha cabelo, eram louros. Usava roupas comuns e tinha um rosto tão belo quando os filhos da própria beleza. Rayh recuou convocando sua espada novamente que não era mais o problema.

     - Afaste-se aberração! - Gritou Rayh para o gigante.

     O gigante se ajoelhou gentilmente, com as mãos como escudo.

     - Por favor, senhor, eu não sou como eles - Falou o gigante. - Eu sou apena um criado da casa de Malvado.

     - E como vamos saber que não nos entregará para os outros gigantes - Disse Sarah em posição de batalha. - Ou pior, nos comer.

     - Porque nós temos o que vocês querem - Respondeu o gigante. - E posso leva-los até lá.

     Rayh achou sinceridade em suas palavras, do modo em que falava. Parecia que aquele gigante era forçado a servir os outros.

     - Você parece ser diferente dos outros - Reparou Rayh. - Qual é o seu nome?

     - Meu nome é Ziuateotl, senhor - Respondeu o gigante. - E estou disposto a lhes ajudar.

     - Espera um pouco... Você é Ziuateotl? - Impressionou-se Sarah. - Servo de Temazcal Teci, o primeiro gigante a tocar as estrelas?

     Ziuateotl assentiu com a cabeça, sorrindo.

     - Impressionante. - Falou Nadiah que também estava impressionada.

     Entre os corredores escutavam gritos e berros. As lâminas rasgando cortinas e quebrando madeira pelo caminho. Ziuateotl abriu os braços como conchas.

     - Venham, rápido - Chamou-os. - Não temos muito tempo.

     Rayh e Nadiah subiram nos braços do gigante. Sarah achou melhor se transformar em lobo e segui-lo pelo caminho.

     Os gigantes já estavam perto quando viram eles fugindo. Ziuateotl levou até a saída da caverna sombria, entrando na floresta logo á frente. Malvado apareceu de frente a Ziuateotl com um enorme martelo na mão.

     - Muito bem meu caro aprendiz - Apreciou Malvado. - Agora entregue-me os prisioneiros agora!

     Ziuateotl recuou os passos, segurando ainda mais Rayh e Nadiah.

     Malvado se aproximou um passo adiante, tornando o seu rosto severo.

     - Teotl, eu mandei você me entrega-los agora! - Falou com o tom grave.

     - Não! - Gritou Ziuateotl.

     Malvado avançou para cima de Ziuateotl, mas algo explodiu na frente do terrível gigante, fazendo Ziauteotl correr no instante. Quando Malvado recuperou o equilíbrio, gritou para o seu exército:

     - Matem-nos, Matem-nos todos!

     Os guerreiros de Malvado começaram a seguir Ziauteotl e Sarah - em forma de lobo - estacando as armas em mãos. Seguiram para o lago depois das colinas, atravessaram a barreira das torres de arco-e-flechas e pararam em uma cachoeira que escorria água contra a queda. A legião cercou Ziauteotl abrindo espaço para o seu mestre, Malvado.

     - Achou mesmo que ia fugir de me? - Falou Malvado com o sorriso malicioso. - Entregue-me os garotos e darei o perdão por sua traição;

     Ziauteotl olhava para Malvado como se quisesse entrega-los. Rayh ficou preocupado com esse detalhe, pois estava nos braços do gigante e não podia fazer nada. Sarah rosnou para os guerreiros cercando-os.

     - Vamos meu caro, você terá seu preço melhor do que já lhe damos!

     A legião abaixaram as armas no comando de Malvado. Ziauteotl abriu um sorriso farsante, dando falsas esperanças.

     - Você não tem mais nada para me oferecer, nem mesmo sua alma será livrada dos jaguares.

     Aaaaah! Malvado avançou para cima de Ziauteotl como um raio. Lançou seu martelo na direção do queixo onde os braços estavam quase próximos. Teotl desviou do ataque, saltando para o lado - Sarah se afastou para não se atingida. Malvado lançou novamente em sua direção, e dessa vez Teotl caiu no chão de barriga para cima. Rayh e Nadiah tentaram correr para longe, mas a legião cercava a floresta.

     - Seu desprezível, eu poderia torna-lo mais que um servo. - Rosnou Malvado.

     - Eu sou mais que um servo, eu sou o escolhido entre todos.

     Escutando aquelas palavras, Malvado tentou bater seu martelo no tórax de Teotl, mas ele rolou para o lado conseguindo chutar a perna do adversário. Os dois lutavam entre si, enquanto Sarah procurava uma brecha para os três fugirem daquele lugar. Teotl chamou atenção de Sarah, ordenando que transformasse em aparência humano. E ela obedeceu.

     Rayn pegou as bolsas com Sarah e colocou nas costas. Teotl puxou algo no pescoço de Malvado que eles não tinham reparado antes, uma pequena estrutura de vidro que parecia estar quebrada. Depois jogou na direção de Rayn com todas as suas forças. O segundo pedaço do calendário sempre estava no pescoço do gigante. Ainda no ar, Sarah conseguiu por as mãos nele. Já pronta para ser transportada, Rayn corre com Nadiah, alcançando-a nos últimos minutos. Os três foram transportados deixando Ziauteotl lutando com Malvado. A única visão que tiveram do primeiro Sol, foi a legião tentando impedi-los, e Malvado gritando feito louco.

     O portal se fechou no momento em que viram Ziauteotl sorrindo para os três, caído no chão.

( Continuação no próximo capítulo... )

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